segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Gnosticismo e suas origens.. A GNOSE HISTORICA. Via E-mail.

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Gnosticismo e suas origens..
A GNOSE HISTORICA
O período que vai de 70 a 140 foi ao mesmo tempo um período de expansão e de crise
interna do judeu-cristianismo. Neste momento é que aparece sob múltiplas formas uma
corrente dualista que será designada pelo nome de gnosticismo. Trata-se mesmo de um
fato novo, ligado a uma situação histórica. Devemos distingui-lo da gnose que é de
modo geral a corrente apocalíptica judaica e judeu-cristã. O gnosticismo constitui uma
das formas de seu desdobramento. Não se identifica tampouco com as tendências
dualistas apresentadas por certas correntes judias, como a de Qumrân, e que se vinculam
quiçá a influências iranianas. Se lhe acontece tomar emprestado algum elemento a tais
correntes, transforma-os numa radicalização que vem a ser então o gnosticismo.O meio
em que aparece é o das zonas marginais do judaismo e do judeu-cristianismo. Já
verificamos a existência de tais zonas. Antes de 70, aparecem como formas aberrantes
da corrente messiânica e da expectativa apocalíptica. Mas não parece encontrar-se ai o
gnosticismo no sentido próprio da palavra. R. M. Grant mostrou que Simão o
Samaritano, apresentado pêlos heresiólogos como o pai da gnose, de fato não foi
gnóstico, mas que seus discípulos se tornaram tais, após 70. O milenarismo asiata já é
ativo na época em que São Paulo escreve a Timóteo, mas torna-se uma heresia gnóstica
caracterizada, somente no fim do primeiro século com Cerinto. H. J. Schoeps tem sem
dúvida razão, quando vê no ebionismo uma heterodoxia judeu-cristã muito arcaica, aos
olhos da qual Cristo é o profeta anunciado por Moisés, mas não o Filho de Deus. Mas
O. Cullmann verifica igualmente, com razão, que, segundo Epifânio, somente após 70
tal grupo representa uma heterodoxia.
Parece que é neste sentido que se deve interpretar um texto de Hegesipo sobre as
origens das heresias (H. E. 5,22,5). Hegesipo escreve que foi sob o episcopado de
Simeão, após a morte de Tiago, que Tebútis introduz as heresias, partindo das sete seitas
judaicas. Nomeia como iniciadores destas heresias Simão, Cleóbio, Dosíteo, Gorteio e
os Masboteus. Ajunta então: “Destes derivam os menandrianistas, os marcionitas, os
carpocracianos, os valentinianos, os basilidianos, os satornilianos”. É evidente que o
texto não pode ser tomado ao pé da letra. Mas duas idéias dai procedem. A primeira é a
distinção em três etapas do movimento que conduz ao gnosticismo. O meio em que se
origina é o judaismo heterodoxo. A partir dele, desenvolve-se o cristianismo heterodoxo
de Simão e dos nazareus. Afinal, deste cristianismo heterodoxo nasce o gnosticismo
propriamente dito. Alias Hegesipo fixa para o tempo do episcopado de Simeão, quer
dizer, para depois da queda de Jerusalém, a aparição do gnosticismo. Seu erro esta em
datar para esta época Simão e os masboteus, quando já se trata da terceira vaga.
1. O Ebionismo
Anotemos primeiro a existência de dois movimentos heterodoxos judeu-cristãos, depois
de 70, que não são propriamente gnósticos. São Justino, em seu Diálogo, pouco após
150. distingue duas categorias de judeu-cristãos: os que participam da fé comum, mas
permanecem fiéis às observâncias judaicas, e que são os descendentes da comunidade
de Tiago; outros “que reconhecem Jesus como Cristo, embora afirmem que tenha sido
homem entre os homens”. Justino não aplica a este grupo a designação de ebionitas.
Mas as informações de Ireneu, de Orígenes, de Eusébio, convergem todas no sentido de
que a afirmação que Cristo é homem como os demais, nascido de José e de Maria, seja
um traço característico do ebionismo.Tal conceito de Jesus, como o profeta anunciado por Moisés mas não como Filho de
Deus, foi comum a numerosos grupos de judeu-cristãos heterodoxos. É muito provável
que se tenha encontrado muito antes de 70. É o que devemos conceder a H. J. Schoeps.
No entanto, é possível determinar com mais precisão as coordenadas da seita dos
ebionitas no sentido estrito. Epifânio situa sua origem para depois da tomada de
Jerusalém, entre judeu-cristãos refugiados em Pela Nesta região foi que ele teve em
mãos o evangelho deles, do qual nos guardou extratos. O Evangelho representa uma
transformação do Evangelho dos Nazareus em sentido heterodoxo. Sua redação remonta
ao inicio do segundo século, sob Trajano. As práticas batistas nos orientam igualmente
para a Transjordânia.
Epifânio enumera entre os livros santos deles as Viagens de Pedro: Esta obra, que esta à
base das Homilias e dos Reconhecimentos Clementinos, repousa por sua vez sobre os
Quérigmas de Pedro que datam da primeira metade do segundo século. Ora, estes
últimos revelam contatos notáveis com a doutrina dos essênios, em particular com o
verdadeiro Profeta, os dois espíritos, a rejeição dos sacrifícios sangrentos. É pois a justo
título que Cullmann propôs vermos nos ebionitas um grupo de essênios convertidos a
Cristo após 70, na Transjordânia, quer tenham fugido de Qumrân, quer tenham feito
parte da emigração de Kokba, nas proximidades de Damasco. Tratar-se-ia de cristãos de
língua aramaica, muito afeiçoados às práticas judaicas, mas hostis ao Templo de
Jerusalém e agarrados a doutrinas esotéricas, como a transmigração. Estamos em face
de um desenvolvimento normal do grupo de Qumrân. Os ebionitas partilham da
concepção essênia da oposição entre os dois princípios. Santo Ireneu sublinha porém
expressamente que não ensinam a .teoria de o mundo ter sido criado por algum outro
que não fosse Deus. Não fazem assim parte dos gnósticos no sentido próprio do termo.
2. O Elcasaísmo
No reinado de Trajano aparece outra seita. Seu fundador Elxai recebeu a revelação
através dum livro que lhe foi dado por um anjo. O conteúdo do livro é a mensagem
sobre o perdão dos pecados cometidos depois do batismo. Elxai recebeu sua revelação
no pais dos partas, no terceiro ano do reinado de Trajano, quer dizer no ano 100. A
dominação dos partas estendia-se então por sobre a Síria oriental. Trajano os combateu.
A apresentação da revelação faz lembrar o “Canto da pérola”, conservado nos Atos de
Tomé, que e da mesma época e se ressente de traços da mitologia parta. As
reminiscências judaicas também são impressionantes: Elxai reafirma que os fiéis são
obrigados a circuncidar-se e a viver em conformidade com a Lei. Os Elcasaítas rezam
voltados para Jerusalém. Elxai procede do judaismo e “pensa como judeu”.
Conhece aliás a Cristo. Mas seu cristianismo lembra em muitos traços o ebionismo.
Cristo é apenas profeta. As Epístolas de São Paulo são rejeitadas (H. E. 6,38). Os
elcasaítas não passam pois de judeu-cristãos heterodoxos. Mas prendem-se também ao
judaismo heterodoxo. Rejeitam os sacrifícios. Retém apenas certas partes do Antigo
Testamento (H. E. 6,38). Conhecem igualmente práticas batistas. Peterson provou que
elas consistiam em expulsar a concupiscência, o mau yezer, considerado como demônio.
Anotemos afinal a semelhança com Hermas, que também recebe a revelação através de
um livro, cujo conteúdo é a pregação de uma última remissão para os pecados
cometidos após o batismo. Ora, Hermas é profeta judeu-cristão. Podemos pois concluir
de tais dados que o elcasaismo é um movimento judeu-cristão heterodoxo, vizinho do
ebionismo mas vinculado à Síria oriental.
3. Os Nicolaítas
Os livros do Novo Testamento, posteriores ao ano 70, nos descrevem um movimento
que apresenta em toda parte traços análogos A Epistola de Judas emana dos judeucristãos que voltaram a Jerusalém após 70. O autor está nutrido da apocalíptica judaica. Denuncia homens que se mancham no corpo, menosprezam a soberania e injuriam as
glórias (8). Murmuram, e se queixam de sua sorte (16). São zombeteiros, psíquicos, que
não possuem o espírito (18-19). As mesmas expressões aparecem na II Epistola de São
Pedro. Os falsos doutores (2,1) fazem pouco caso da soberania e se abandonam às
cobiças da carne (2.10). Desprezam a glória (2,10). Seguem o caminho de Balaão
(2,15). São zombeteiros (3,3). Prometem a liberdade, sendo eles próprios escravos da
corrupção (2,19).
O Apocalipse de João nos descreve um grupo de tendência semelhante na Ásia Menor.
Censura a Pérgamo e Tiatira por haverem permitido que nelas entrassem “pessoas
mancomunadas com a doutrina de Balaão, que comem carnes imoladas aos ídolos e se
entregam a impudicícia” (2,14 e 20) e pretendem conhecer “as profundezas de Satanás”
(2,25). Se reunirmos os traços que reaparecem nestes textos, verificaremos em primeiro
lugar a rejeição completa das observâncias noáquicas, fato que devia escandalizar os
judeu-cristãos. Mas há mais. A soberania e as glórias estão sendo injuriadas. O que
parece significar de fato uma condenação do Deus da criação e do Antigo Testamento.
Tal doutrina esta relacionada com Balaão, que para o judaismo contemporâneo é o
ancestral dos magos e o pai do dualismo. Encontramos ai os traços fundamentais da
revolta gnóstica contra o Deus do Antigo Testamento, considerado como alguém que
iludiu as esperanças apocalípticas. A doutrina professa aliás uma liberdade total, que
não passa de imitação falaz da liberdade espiritual das igrejas paulinas.
O Apocalipse distingue deste primeiro grupo o dos nicolaítas. Éfeso recebe felicitações
por odia-los (2,6). Pérgamo, pelo contrário, agasalha pessoas que participam deles
(2,15). Santo Ireneu nos conta que tinham por mestre um prosélito de Antioquia, que os
Atos mencionam como sendo dos Sete. Esta vinculação parece já suspeita a Eusébio (H.
E. 3,29,1). Talvez tenha resultado da interpretação de uma anedota, contada por
Clemente de Alexandria, segundo a qual este Nicolau teria oferecido sua mulher a
outros. Nossas informações sobre os nicolaítas se reduzem assim a pouca coisa. Nicolau
era o equivalente grego de Balaão. Esta característica, unida ao paralelo traçado pelo
Apocalipse sobre os nicolaítas e a seita precedente, leva a pensar que se trata de uma
mesma corrente de condenação do Deus do Antigo Testamento e da libertinagem moral.
4. Cerinto
Os primeiros movimentos gnósticos aparecem assim nos meios judeu-cristãos da
Palestina e da Ásia, no tempo de Domiciano. Um segundo grupo é o de Cerinto. Santo
Ireneu nos diz que era contemporâneo de João. Trata-se de um judeu-cristão que
mantém a circuncisão e o sábado. Aguarda para depois da ressurreição um reino
terrestre de Cristo, de caráter materialista e a restauração do culto em Jerusalém (H. E.
3,28,2,5). Ensina, além disso, que o mundo não foi criado por Deus, mas por um poder
muito distante e que ignora o Deus que paira por sobre tudo. Jesus nasceu de José e de
Maria. Não passa de um homem eminente. Cristo desceu sobre ele, sob a forma de
pomba, na hora do batismo. Anunciou o Pai desconhecido. Depois subiu para o Pai,
antes da Paixão.
Se analisarmos os diversos elementos destas informações, distinguiremos dois dados
principais. Por um lado, Cerinto prolonga uma corrente judeu-cristã heterodoxa. Prendese a um messianismo de caráter muito materialista. Esse milenarismo lhe era comum
com muitos cristãos da Ásia. Mas nega o nascimento virginal de Jesus e sua natureza
divina. É um grande profeta sobre o qual desceu o poder divino. Estamos aqui diante de
um judeu-cristianismo heterodoxo, como o encontramos no ebionismo. Não admira que
Epifânio aproxime Cerinto dos ebionitas. Afinal Cerinto considera que o mundo não foi
criado por Deus, mas por um demiurgo que ignora o verdadeiro Deus. É o gnosticismo
propriamente dito, que aparece pela vez primeira em sua formulação precisa. Por este traço, característico da era de Trajano, Cerinto modifica uma corrente judeu-cristã
anterior. Encontra-se tanto na heterodoxia judaica quanto no cristianismo.
5. Os Simonianos
Hegesipo labora seguramente em erro quando faz de Simão um discípulo de Tebútis,
depois de 70. Mas o que parece exato, conforme bem o acentuou R. J. Grant, é que o
movimento desencadeado por Simão, que de inicio fora um messianismo samaritano,
assume após 70 traços novos. Podemos relacionar tal desenvolvimento ou com
Menandro, de quem ainda falaremos, ou com Cleóbio, que Hegesipo nomeia como um
dos hereges formados por Tebútis depois de 70 e que aparece associado a Simão em
mais de um texto. Estamos em presença de uma evolução análoga a do messianismo
asiata que com Cerinto assume traços mais acusados depois de 70. 0 primeiro autor a
nos informar sobre o desdobramento do movimento simoniano é Justino. Como ele
próprio e de origem samaritana, seu testemunho merece fé. Ireneu consagra a Simão
uma longa noticia.
Justino declara que quase todos os samaritanos adoram Simão como o primeiro Deus e
lhe associam certa Helena, que é seu primeiro pensamento (enoia). Estamos em
presença de uma evolução considerável em relação ao que diziam de Simão os Atos.
Como o relevou Grant, Simão aparece como o primeiro Deus, por oposição aos anjos
que criaram o mundo e inspiraram o Antigo Testamento, segundo precisões fornecidas
por Ireneu. O primeiro Deus vem libertar o homem dos anjos que governavam mal a
criação. Estamos aqui de fato diante do gnosticismo, com a condenação do Deus do
Antigo Testamento, e da criação que é sua obra. Tiveram razão os Padres da Igreja,
quando fizeram da doutrina simoniana o começo deste movimento. Mas tal dualismo
gnóstico não remonta a Simão em pessoa. Representa sim o desenvolvimento de sua
doutrina, depois de 70. É nesta hora que o gnosticismo aparece simultaneamente na
Ásia e na Síria.
A associação do personagem de Helena a Simão pode relacionar-se com o culto de
Helena na Samaria, ou simplesmente com a preocupação de helenizar, conforme pensa
Grant. Em todo o caso, reencontramos aqui desde o inicio um traço deste sincretismo
que caracteriza o gnosticismo. Justino atesta igualmente a existência, na época em que
escreve (por 145), de uma comunidade simoniana em Roma, sem dúvida entre os
samaritanos. Relaciona a fundação desta comunidade com uma vinda de Simão a Roma,
na época de Cláudio (antes de 54), no tempo em que veio Pedro. Os escritos pseudoclementinos por sua vez confirmam as controvérsias romanas entre Pedro e Simão.
Teremos que ver ai a expressão legendária da expansão do gnosticismo durante o
período, e seus conflitos com as comunidades cristãs. Justino menciona enfim a
presença de um altar consagrado a Simão na ilha do Tibre. Trata-se de fato de um altar
consagrado a uma divindade sabina da fertilidade, Semo Sancus. Este altar foi
reencontrado em 1574. Mas é possível que os discípulos de Simão tenham julgado
reconhecer ai a expressão do culto de seu fundador e deus.
6. Menandro
Hegesipo menciona os menandrianistas, na segunda vaga das seitas nascidas da
heterodoxia judaica. Justino nos revela que Menandro era samaritano, como Simão, e
discípulo do mesmo. Acrescenta que veio de Antioquia. Foi pois por seu intermédio que
o gnosticismo se desenvolveu na Síria ocidental, que há de transformar-se em um de
seus principais centros. Justino começa por dizer-nos que praticava a magia, traço
comum dos gnósticos samaritanos. O gnosticismo não era apenas uma teologia, mas
também uma teurgia. Eusébio anota que suas veleidades de mágico contribuíam para desacreditar os cristãos nos meios pagãos. E, de fato, surpreendem-nos, no segundo
século, Luciano e Celso apresentando o próprio Cristo como mágico.
Segundo Justino, Menandro ensinava ainda que aqueles que o seguiam não haveriam de
morrer. Temos sem dúvida uma alusão às esperanças messiânicas. São Paulo advertira
os tessalonicenses contra “palavras proféticas, afirmações ou cartas dadas como se de
nós viessem e que vos fariam imaginar iminente o Dia do Senhor” (2 Tess 2,2). Em
Éfeso, Himeneu e Fileto ensinavam que a ressurreição já tivera lugar (2 Tim 2,17). Com
Menandro, estamos exatamente no prolongamento do messianismo de Simão e de
Cerinto. Santo Ireneu afirmou ainda de Menandro que se apresentava como o Salvador
enviado do alto, do mundo dos éons invisíveis, para salvar os homens. Graças ao
batismo, tornar-se-iam superiores aos anjos da criação. Estas doutrinas são vizinhas
daquela que Ireneu empresta a Simão. É possível que seja Menandro que tenha dado ao
messianismo samaritano de Simão seu caráter de teologia gnóstica.

3 comentários:

  1. 7. Satornil
    Menandro marca o encontro entre o messianismo samaritano de Simão e o gnosticismo.
    Dedica-se ao apostolado em Antioquia entre 70 e 100. Satornil se torna seu herdeiro,
    conforme já o atesta Justino. É a primeira grande figura do gnosticismo propriamente
    dito. Sua ação se passa em Antioquia, entre 100 e 130 mais ou menos. No início da
    carreira, teve por bispo a Inácio. Sua doutrina representa o desenvolvimento do que
    encontramos com Menandro. Opõe os sete anjos criadores, com o Deus dos judeus por
    chefe, ao Deus escondido. Estes anjos e que criam o homem, mas ele se arrasta sobre a
    terra, enquanto o Deus escondido não lhe concede uma parte da luz que emite. Aliás,
    Satornil condena o casamento, que ele deriva de Satanás; alguns de seus discípulos não
    comem carne.
    Santo Ireneu observa que é ele o primeiro a distinguir duas raças de homens, os que têm
    parte na luz celeste e os que não têm parte nela. Tal doutrina é que constitui
    propriamente o dualismo gnóstico, que subtrai a Deus o que procede da criação pêlos
    anjos planetários. Mas percebemos quanto o contexto ainda continua sendo judeu.
    Depende da narração da criação pelo Gênese, narração que se transforma em um dos
    temas da especulação judia do tempo; seu ascetismo procede do judaismo marginal; sua
    doutrina dos sete arcanjos é a do apocalipse judeu. Ao mesmo tempo porém faz de Javé
    o príncipe dos anjos responsáveis pela criação. Trata-se pois de uma crise no interior do
    judeu-cristianismo, duma revolta contra o Deus de Israel.Menandro marca o encontro
    entre o messianismo samaritano de Simão e o gnosticismo. Dedica-se ao apostolado em
    Antioquia entre 70 e 100. Satornil se torna seu herdeiro, conforme já o atesta Justino. É
    a primeira grande figura do gnosticismo propriamente dito. Sua ação se passa em
    Antioquia, entre 100 e 130 mais ou menos. No início da carreira, teve por bispo a
    Inácio. Sua doutrina representa o desenvolvimento do que encontramos com Menandro.
    Opõe os sete anjos criadores, com o Deus dos judeus por chefe, ao Deus escondido.
    Estes anjos e que criam o homem, mas ele se arrasta sobre a terra, enquanto o Deus
    escondido não lhe concede uma parte da luz que emite. Aliás, Satornil condena o
    casamento, que ele deriva de Satanás; alguns de seus discípulos não comem carne.Santo
    Ireneu observa que é ele o primeiro a distinguir duas raças de homens, os que têm parte
    na luz celeste e os que não têm parte nela. Tal doutrina é que constitui propriamente o
    dualismo gnóstico, que subtrai a Deus o que procede da criação pêlos anjos planetários.
    Mas percebemos quanto o contexto ainda continua sendo judeu. Depende da narração
    da criação pelo Gênese, narração que se transforma em um dos temas da especulação
    judia do tempo; seu ascetismo procede do judaismo marginal; sua doutrina dos sete arcanjos é a do apocalipse judeu. Ao mesmo tempo porém faz de Javé o príncipe dos
    anjos responsáveis pela criação. Trata-se pois de uma crise no interior do judeucristianismo, duma revolta contra o Deus de Israel.

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  2. 8. Os Barbelognósticos
    Santo Ireneu resume no capitulo XIX do livro I do Adversus Haereses a doutrina de
    uma seita que ele chama de barbelognósticos. Possuímos agora a obra de que resume a
    primeira parte. Trata-se do Apócrifo de João, conservado num exemplar em Berlim; e
    de que foram reencontrados três outros em Nag Hammadi. O número importante de
    exemplares atesta que se trata de obra capital. Apresenta-se sob a forma de uma
    revelação feita por Cristo ressuscitado a São João no Monte das Oliveiras. A primeira
    parte contém uma genealogia dos éons do pléroma. Depois, a partir de 45,5, temos uma
    sorte de comentário ao Gênesis. Os sete arcontes tentam formar um homem a
    semelhança de Deus. Tal homem é incapaz de mover-se. A Sabedoria, Sophia, lhe
    comunica uma forca, que o torna superior aos arcontes, e suscita a inveja dos mesmos,
    em particular do chefe deles laldabaoth, o Javé judeu.

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  3. A obra está repleta de alusões aos apócrifos judeus. Estamos sempre no mesmo
    ambiente. A doutrina aliás se assemelha aquela que desenvolve a Epistola de Eugnosto,
    reencontrada em Nag Hammadi. Pareceria assim ser antes a obra de um discípulo de
    Satornil, e não de Satornil mesmo. Sua origem síria parece evidente. Possuímos afinal
    um documento original do gnosticismo primitivo. H. Ch. Puech data-o da primeira
    metade do segundo século. Todos os temas gnósticos já estão presentes, incluídos os
    éons do pléroma e o papel de Sophia. Ao mesmo tempo a unidade da doutrina gnóstica
    aparece através da multiplicidade de suas expressões e de suas correntes.
    9. Os Setenses
    O capitulo XXX do livro I de Santo Ireneu, depois da doutrina dos barbelognósticos,
    nos apresenta a dos setenses. A comparação desta informação com a segunda parte do
    Apócrifo de João, resumido no capitulo anterior por Ireneu, torna patente que se trata de
    um desdobramento da mesma gnose, de caráter judeu-cristão mais marcado Os éons do
    pléroma são, depois do Pai, o Filho e o Espirito Santo, em seguida o Cristo e a Igreja.
    Os éons do Pléroma produzem Sophia. Esta por sua vez engendra, pela união com as
    águas inferiores, sete filhos, laldabaoth, Iao, Sabbaoth, Adonai, Elohim, Astaphaim e
    Horaios (1,30,5). Os anjos formam o homem a sua semelhança. Cristo desce através dos
    sete céus, para estupor dos poderes, tomando formas de anjos em cada céu (1,30,1 1).
    Possuímos aqui os mesmos temas fundamentais que encontramos no Apocryphon.
    Anotemos que os sete anjos trazem os diferentes nomes de Javé no Antigo Testamento.
    Encontramos além disso os temas da teologia judeu-cristã, tal como a encontramos na
    Ascensão de Isaías, na Epistola dos Apóstolos, no Pastor de Hermas: preexistência de
    Cristo e da Igreja, descida oculta de Cristo através das esferas dos anjos, estupor dos
    poderes. Estamos em presença do gnosticismo judeu-cristão mais caracterizado. É
    contemporâneo da teologia judeu-cristã. Sua ligação com Antioquia parece certa É a tal
    grupo que se ligarão diversas obras reencontradas em Nag Hammadi, como o Livro do
    Grande Seth.
    10. Carpócrates
    Da Ásia e da Síria, o gnosticismo judeu-cristão se difundiu para o Egito, onde devia
    experimentar um desenvolvimento extraordinário. Sabemos que Cerinto veio a
    Alexandria. Por 120, ai encontramos uma doutrina que aparece como desenvolvimento
    da sua, é a de Carpócrates. Também ele ensina que o mundo foi criado pêlos anjos, que
    Jesus nasceu de José e que um poder baixou nele. Aquele que partilha com ele o poder
    lhe é igual. Pode menosprezar os arcontes fabricantes do mundo e cumprir os mesmos prodígios que Jesus. É um traço que estivera ausente em Cerinto. Pode prender-se no
    entanto ao gnosticismo asiata sob a forma mais acusada.
    Efetivamente, Carpócrates não apresenta traço algum do milenarismo messiânico de
    Cerinto. Este aliás permaneceu circunscrito a Ásia e ao mundo ocidental. Por outro lado,
    reencontramos nele a concepção segundo a qual o homem não pode ser libertado dos
    arcontes, senão depois de ter sido escravo dos vícios aos quais aqueles presidem. Caso
    contrário, terá que reencarnar-se para pagar sua divida. A doutrina dos demônios dos
    vícios, a da reencarnação, provêm do judaismo heterodoxo. Carpócrates lhe ajunta um
    amoralismo, que parece ter sua origem na revolta gnóstica não somente contra o Deus
    judeu, mas contra a Lei. Por este traço e pelo menosprezo votado aos anjos, lembra os
    nicolaítas e aparece como a expressão do gnosticismo em estado puro, ao rejeitar, com
    violência, a criação.

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